Eficácia no preparo da calda

Qualidade da água

          Muito se tem discutido atualmente sobre a qualidade da água utilizada nas pulverizações, principalmente com relação ao pH que em determinadas situações tornou-se sinônimo de qualidade da água. Quando um produto não funciona como deveria, um técnico com um Phmetro se julga capaz de identificar exatamente o que aconteceu sem nem mesmo observar as condições do pulverizador ou a técnica utilizada na aplicação, o que deve ser considerado um erro grave para com o produtor. 

          Ao se pensar em qualidade da água um fator muito importante a ser considerado é a qualidade física da mesma, ou seja, a quantidade de sedimentos em suspensão que possam vir a obstruir filtros e pontas reduzindo a capacidade operacional dos pulverizadores e a vida útil de bombas, pontas e componentes do pulverizador, podem se associar aos produtos químicos adicionados ao tanque, inativando-os ou reduzindo sua eficácia. 

          Outro fator a ser observado é a qualidade química da água, que pode ser analisada de várias formas. Uma delas, e que tem grande interferência sobre a eficácia dos agrotóxicos, é a “Dureza”. A dureza da água é definida como a concentração de cátions alcalino-terrosos (Ca+2, Mg+2, Sr+2 e Ba+2) presentes na água, expressa na forma de ppm de CaCO3, representados normalmente por Ca+2 e Mg+2 originados de carbonatos, bicarbonatos, cloretos e sulfatos. A dureza é capaz de interferir negativamente na qualidade de calda de um agrotóxico em função destes, nas suas formulações, utilizarem adjuvantes que são responsáveis pela sua emulsificação ou dispersão na água, denominados de tensoativos.

Tais adjuvantes são sensíveis a dureza pois atuam no equilíbrio de cargas que envolvem o ingrediente ativo, equilíbrio este que é alterado pela água dura. Um grupo específico de tensoativos, os aniônicos, que são geralmente sais orgânicos de Na+ e K+, reagem com os cátions Ca+2 e Mg+2 presentes na água dura, formando compostos insolúveis, reduzindo assim a quantidade de tensoativo na solução e causando grande desequilíbrio de cargas, ocasionando a floculação ou precipitação dos componentes da formulação, podendo causar uma baixa eficácia e a obstrução de filtros e pontas de pulverização.

Felizmente as águas brasileiras, salvo algumas exceções, são brandas ou muito brandas, não ocasionando problemas a aplicação de agrotóxicos.
          A qualidade química da água deve também ser analisada em função da quantidade de outros íons que a compõem e que não são constituintes da dureza. Íons como Fe+3 e Al+3 por exemplo, podem reagir com o agrotóxico reduzindo sua eficácia. No entanto, a tal interferência é influenciada pela tecnologia empregada na pulverização, não existindo uma concentração alta ou baixa fixa para tais íons. Para uma mesma concentração, quanto menor for o volume de água utilizado por área para a distribuição de uma mesma dose de agrotóxico, menor será a interferência destes sobre o princípio ativo.

Deve-se sempre consultar o representante técnico do produto a ser utilizado ou um Engenheiro Agrônomo competente para se certificar da adequação dos níveis destes ao produto e à tecnologia de aplicação a serem empregados. Quando forem incompatíveis, agentes sequestrantes, que quelatizam e inativam estes íons na água de pulverização, estão disponíveis no mercado e podem ser utilizados como forma a tornar a água adequada a aplicação.

          Por fim, o pH da água de aplicação deverá ser analisado na propriedade apenas como indicador de possíveis alterações nas características químicas da água. Caso apenas o pH esteja alterado, estando as demais características inalteradas, muito raramente se observará interferência na eficácia do produto aplicado. Apesar disso, hoje é muito comum ver-se no campo tabelas contendo o pH ideal de ação para diferentes princípios ativos bem como a vida média dos produtos em diferentes pH’s. O

Qualquer necessidade da adição de adjuvantes à calda, seja ele um corretor de pH, um sequestrante ou mesmo um espalhante deverá ser orientado pelo representante técnico do produto a ser utilizado ou por um Engenheiro Agrônomo competente.

Uma vez observadas estas características a calda poderá então ser elaborada, observando-se os demais parâmetros técnicos previstos pela tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários para esta operação e já discutidos nos artigos anteriores. Minimizar o fator qualidade da aplicação a um ou outro parâmetro, induz invariavelmente a erros que se refletem na elevação do custo do tratamento fitossanitário, quer pela utilização de produtos desnecessários, pela ineficácia dos tratamentos ou pela necessidade de maiores volumes de calda. Neste contexto, informação também é parte importante da qualidade, e deve ser buscada através de técnicos responsáveis ou de publicações idôneas nas diferentes áreas para que seja isenta e possa refletir eficientemente na qualidade da produção, na segurança do aplicador e do ambiente e na qualidade de vida do agricultor.

 RAMOS, H. H.; DEMÉTRIUS A. de;. Preparo da calda e sua interferência na eficácia de agrotóxicos. 

 

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